domingo, 18 de março de 2012

A morte devagar ...

Morre lentamente quem não troca de idéias,
não troca de discurso, evita as próprias contradições.

Morre lentamente quem vira escravo do hábito,
repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas
compras no supermercado. Quem não troca de marca,
não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru
e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar
um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem,
e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens
que traz informação e entretenimento, mas que não deveria,
mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a
um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as
resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando
está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo
pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite,
uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê,
quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.

Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio.
Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda
profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda,
e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino:
então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se
da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um
projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um
assunto que desconhece e não respondendo quando
lhe indagam o que sabe. Morre muita gente lentamente,
e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela
se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados
para percorrer o pouco tempo restante.

Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia.
Já que não podemos evitar um final repentino,
que ao menos evitemos a morte em suaves prestações,
lembrando sempre que estar vivo exige um esforço
bem maior do que simplesmente respirar.

Martha Medeiros

2 comentários:

  1. Oi amore! Tudo bem?
    Que blog fofo! ^^ Adorei a menininha lendo no quartinho dela e essa outra serelepe aqui pulando na minha tela!!! xD
    Ah! Também gosto muito dos textos da Martha Medeiros! Esse é muito bom! ^^
    Seguindo, se puder segue meu diário virtual:
    http://odiariothompson.blogspot.com.br/

    ...beijinhos***

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  2. Martha Medeirosé muito diva, ela escreve tudo o que sinto é incrivel.

    A menina serelepe é minha cara hahaha

    Origada pela visitnha flor, já estou seguindo seu blog :)

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